GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA FINALIDADE DE CARTAS DE LEITOR
Resumo
Diferentes diretrizes educacionais no Brasil recomendam que o ensino de língua portuguesa seja conduzido com base nos gêneros textuais. A partir dessa orientação, o presente artigo procura contribuir para o ensino de português analisando o funcionamento de um gênero em particular, a carta de leitor, amplamente reconhecida como um dos gêneros apropriados para trabalho em sala de aula. Nesse sentido, o objetivo do artigo é descrever o percurso histórico da finalidade comunicativa do gênero em questão. Examinam-se cartas publicadas nos principais jornais paulistas, pelo método da análise tópica de textos, tomado aqui como ferramenta para se detectar, em última instância, a finalidade dos textos analisados. Os resultados revelam que a finalidade da carta de leitor sempre foi marcada pelo propósito de argumentar, porém, essa finalidade passa por alterações, manifestando-se principalmente de duas formas: num primeiro momento, o gênero tem a finalidade de argumentar sobre um assunto como forma de sustentar uma solicitação a respeito; com o tempo, o gênero prioriza a finalidade de argumentar como forma de expressão pública de opinião. O artigo sugere que resultados como esses representam contribuição significativa para o conhecimento dos gêneros e, assim, para o ensino de língua portuguesa.
Referências
BRANDÃO, H. H. N. Estilo, Gêneros do discurso e implicações didáticas. Texto apresentado no III Seminário da Análise do Discurso, Universidade Católica de Salvador. Salvador, 2005. Disponível em:
COSTA, S. R. Dicionário de gêneros textuais. 3ª ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.
FORTILLI, S. C. A repetição em cartas de leitor catarinenses. In: PENHAVEL, E.; CINTRA, M. R. (org.). História do português brasileiro: diacronia dos processos de construção de textos. São Paulo: Contexto, 2022. p. 194-217.
GARCIA, A. G. Estudo do processo de organização tópica em editoriais de jornais paulistas do século XXI. 2018. 278 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2018.
HANISCH, C. V. O processo de organização tópica em artigos de opinião de alunos da Universidade Federal do Acre. 2019. 467 f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) – Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2019.
JUBRAN, C. C. A. S. A Perspectiva Textual-Interativa. In: JUBRAN, C. C. A. S.; KOCH, I. G. V. (org.). Gramática do português culto falado no Brasil: construção do texto falado. Campinas: Editora da UNICAMP, 2006a, p. 27-36.
JUBRAN, C. C. A. S. Revisitando a noção de tópico discursivo. Cadernos de Estudos Linguísticos, v. 48, n. 1, p. 33-41, 2006b.
JUBRAN, C. C. A. S. Tópico Discursivo. In: JUBRAN, C. C. A. S.; KOCH, I. G. V. (org.). Gramática do português culto falado no Brasil: construção do texto falado. Campinas: Editora da UNICAMP, 2006c, p. 89-132.
JUBRAN, C. C. A. S. Uma gramática textual de orientação interacional. In: CASTILHO, A. T.; MORAIS, M. A. T.; LOPES, R. E. V.; CYRINO, S. M. L. (org.). Descrição, história e aquisição do português brasileiro. Campinas: Pontes, 2007, p. 313-327.
JUBRAN, C. C. A. S. Diacronia dos processos constitutivos do texto. In: HORA. D. SILVA, C. R. (Org.). Para a história do português brasileiro: abordagens e perspectivas. João Pessoa: Ideia/Editora Universitária, 2010, p. 204-239.
JUBRAN, C. C. A. S. et al. Organização tópica da conversação. In: ILARI, R. (org.). Gramática do português falado: níveis de análise linguística. 4ª ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 2002, p. 341-420.
JUBRAN, C. C. A. S.; KOCH, I. G. V. (org.). Gramática do português culto falado no Brasil: construção do texto falado. Campinas: Editora da UNICAMP, 2006.
KABATEK, J. Tradições discursivas e mudança linguística. In: LOBO, T.; RIBEIRO, I.; CARNEIRO Z.; ALMEIDA, N. (org.). Para a história do português brasileiro: novos dados, novas análises. Salvador: Editora da UFBA, 2006, p. 505-527.
KOCH, I. G. V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.
KÖCHE, V. S.; BOFF, O. M. B.; MARINELLO, A. F. Leitura e produção textual: gêneros textuais do argumentar e expor. Petrópolis: Vozes, 2010.
MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.
OLIVEIRA, G. A. Estudo do processo de estruturação interna de segmentos tópicos mínimos em cartas de leitores de jornais paulistas do século XXI. 2016. 194f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Universidade Estadual Paulista, S. J. Rio Preto, 2016.
PENHAVEL, E.; CINTRA, M. R. Abordagem diacrônica de processos de construção de textos. In: PENHAVEL, E.; CINTRA, M. R. (org.). História do português brasileiro: diacronia dos processos de construção de textos. São Paulo: Contexto, 2022. p. 17-37.
PINHEIRO, C. L. Estratégias textuais-interativas: a articulação tópica. Maceió: EDUFAL, 2005.
SEARLE, J. Expressão e Significado: estudo da teoria dos atos de fala. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
SCHIFFRIN, D. Discourse markers. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.
Copyright (c) 2025 REVISTA DIÁLOGO E INTERAÇÃO

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.

