ENTRE A CASA E A RUA
DESLOCAMENTOS EM EVA LUNA DE ISABEL ALLENDE
Resumo
Desde a infância, os sucessivos deslocamentos de Eva Luna (ALLENDE, 2010) entre a casa e a rua fazem-na defrontar as delimitações de territórios feminilizados e masculinizados. Assim, este estudo explorou os processos de desterritorialização vividos pela protagonista-narradora do romance Eva Luna (2010) de Isabel Allende. Para cumprir com o objetivo de analisar a influência destes trânsitos sobre suas subversões, o pensamento de Pierre Bourdieu (2019) sobre o sistema simbólico que estrutura o patriarcado foi basilar. Fundamentado nos estudos de Lúcia Osana Zolin (2018), o conceito de desterritorialização foi imprescindível para demonstrar a complexidade do atravessamento das fronteiras simbólicas com as quais se depara. Sendo que a personagem também utiliza a literatura para essa finalidade, a pesquisa se respalda no trabalho de Elódia Xavier (2012) sobre a representação de tais esferas sociais na literatura de autoria feminina e na perspectiva de Hélenè Cixous (2023) para salientar a relação entre a escrita das mulheres e a resistência perante o androcentrismo. A análise crítica revelou que o ir e vir de Eva Luna entre a casa e rua amplia sua visão crítica da realidade, de maneira que destaca dinâmicas de poder e resiste por meio da literatura que produz.
Referências
ALLENDE, Isabel. Eva Luna. Tradução de Luísa Ibañez. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
ALLENDE, Isabel. Meu país inventado. Tradução de Mario Pontes. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
BELLEI, Sérgio Luiz Prado. Uma Cultura na Fronteira. In: Monstros, índios e canibais: ensaios de crítica literária e cultural. Florianópolis: Insular, 2000.
BOSI, Alfredo. Literatura e Resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina: a condição feminina e a violência simbólica. Tradução de Maria Helena Kuhner. 15. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2019.
CANDAU, Joel. Memória e Identidade. Tradução Maria Letícia Ferreira. São Paulo: Contexto, 2018.
CIXOUS, Hélène. O Riso da Medusa. Tradução de Natália Guerellus e Raísa França Bastos. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2022.
DAMATTA, Roberto. A Casa e a Rua: Espaço, Cidadania, Mulher e Morte no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1997.
KIRKWOOD, Julieta. El Feminismo como Negación Del Autoritarismo. Santiago: Flacso, 1983.
KIRKWOOD, Julieta. Feministas e Políticas. Barcelona: Nueva Sociedad, 1985.
LISPECTOR, Clarice. Laços de Família. Rio de Janeiro: Rocoo, 1998.
PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. Tradução de Angela M. S. Côrrea. São Paulo: Contexto, 2007.
QUEIROZ, Rachel. Memorial de Maria Moura. Rio de Janeiro: BestBolso, 2018.
RANCIÈRE, Jacques. Mal-Estar na Estética. Tradução de Gustavo Chataignier e Pedro Hussak. São Paulo/Rio de Janeiro: Editora 34/Editora PUC-Rio, 2023.
SAAVEDRA, Carola. O mundo desdobrável: ensaios para depois do Fim. Belo Horizonte: Relicário, 2021.
XAVIER, Elódia. A Casa no Imaginário Feminino: “Um Espaço Feliz?”. Avanços em Literaturas e Culturas Brasileiras. Século XX. v. 2. p. 137-155. Santiago de Compostela: Através Editora, 2012.
ZOLIN, Lúcia Osana. Estratégias de Subjetificação na Ficção Contemporânea de Mulheres: Exílio, Migração, Errância e Outros Deslocamentos. In: DALCASTAGNÈ, Regina.; LICARIÃO, Berttoni.; NAKAGOME, Patrícia. (Orgs.). Literatura e Resistência. Porto Alegre: editora Zouk, 2018.
Copyright (c) 2024 REVISTA DIÁLOGO E INTERAÇÃO

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.