AS MEMÓRIAS E VOZES QUE ECOAM NO SILÊNCIO, NA OBRA TORTO ARADO, DE ITAMAR VIEIRA JUNIOR
Resumo
O livro Torto Arado, do escritor Itamar Vieira Junior, retrata o modo como as famílias afro-brasileiras eram tratadas mesmo após a abolição, sofrendo com as consequências e feridas que permeiam por décadas. As protagonistas Bibiana, Belonísia e Santa Rita Pescadeira narram o processo de subalternidade racial. E os episódios narrados manifestam posturas ativas diante das tradicionais estruturas de submissão e exploração, a partir de suas histórias e do grupo ao qual pertencem. O romance salienta a manutenção da tradição religiosa e da identidade cultural de um grupo oprimido. A crítica de Spivak, elabora a noção de subalternidade como uma construção de um duplo silenciamento, originado tanto pela ideologia imperialista quanto pelo patriarcado. O sujeito subalterno é excluído socialmente do povoado no qual foi inserido. Walter Benjamin, por sua vez, argumenta que a narrativa é construída a partir da vida do sujeito que narra, deixando vestígios que representam suas experiências, seus sentidos e seus significados sobre os fatos e as ações, bem como das memórias relatadas na obra. Segundo Chartier é através desse conflito entre memória e identidade que melhor podemos representar o mundo e consequentemente um sujeito. Considerando esses aspectos, este artigo analisa os relatos traumáticos da opressão, silenciamento e amor à terra. Portanto, de cunho bibliográfico, a pesquisa possui como aporte teórico os estudos de Regina Dalcastagné (2008), Erich Auerbach (2002), Domício Proença (2004), Theodor Adorno (2003) Gayatri Spivak (2010), Roger Chartier (1991), Walter Benjamin (1994) dentre outros.
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