A CULTURA DA CORREÇÃO NA INTERNET

REFLECTION OF A NORMATIVE SOCIETY AND EDUCATION

  • Milena Gambôa Universidade Federal de Pernambuco
  • Maria Eduarda dos Santos
Palavras-chave: Gramática. Educação normativa. Preconceito linguístico. Twitter.

Resumo

Apesar dos avanços nos estudos linguísticos, ampliando a compreensão acerca das variações e dos usos reais da língua portuguesa, é possível observar ainda uma significativa importância atribuída às regras que constituem o “falar/escrever bem” de acordo com um viés normativista. Tendo em vista que a internet funciona como um reflexo das instituições sociais, advogamos que nesses espaços também se observa um pendor para o “uso correto da língua” em detrimento das competências comunicativas exigidas pelo contexto. Destarte, buscamos, a partir de uma análise qualitativa e descritiva de 10 conversas-interações encontradas no Twitter, nos meses de setembro e outubro de 2018, identificar como a cultura da correção e a valorização da gramática normativa pregadas pela sociedade e pela escola estão presentes e se impõem mesmo em contextos mais espontâneos e menos monitorados como o da internet, desconsiderando aspectos da argumentação textual. Para entender e chegar em tais constatações, utilizamos como embasamento teórico Bagno (2003, 2007), Faraco (2004, 2008, 2015), Faraco e Zilles (2017), Ilari e Basso (2006), Possenti (1996), Street (2014). Após a análise dos dados, concluímos que a constante cobrança pelo “uso correto” da língua desponta, simultaneamente, como um reflexo e como uma causa da propagação do preconceito linguístico, fruto de uma cultura, sociedade e educação normativistas.

Referências

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Publicado
2020-10-16

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